Angola: Em Busca dos Amores Perdidos
" Qualquer semelhança é mera coincidência, o narrador é um autêntico indisciplinado convencional" Quando Proust escreveu Em Busca do Tempo Perdido, falava da memória como quem decifra os vestígios invisíveis da vida. O tempo, para ele, não era apenas cronologia: era emoção condensada, um eco de saudades e de ausências. Em Angola, essa busca adquire contornos próprios, mais duros, mais colectivos e viscerais. É nos cafés de Luanda que essa memória ganha corpo, o Eros Café e o Arts Café da vida imaginária, cenários frequentes para intelectuais, artistas e políticos, transformaram-se em palcos onde a cidade encena os seus amores perdidos. Mas a verdade é que, para além do charme cosmopolita, esses lugares carregam também uma contradição: são espaços de reflexão e boémia, porém, fechados à realidade da maioria. Entre taças e falas Cacomas , a Angola real feita de bairros esquecidos, de juventude na sua maioria lotadores e sem futuro, de amores interrompidos pela sobrevivência ...