Crónica: Os lotadores e os mecanismos do caos urbano
( Do silêncio das paragens ao ruído das ruas em chamas ) Nota introdutória do autor Não sou, por natureza, um escritor, sou um leitor outsider compulsivo, desses que mergulham sem pressa no oceano profundo das letras, e que, entre as páginas da vida e da ficção, encontram refúgio e inquietação. Sou um alienígena literário, um ser à parte no planeta da linguagem, um errante que viaja com o passaporte da dúvida e o vício da observação, como um dia descreveu-me o PJ . Escrevo não por vaidade de ser lido, mas por imperativo íntimo de compreender este país, esta cidade, este tempo, de compreender os silêncios que habitam os corredores do quotidiano, e de dar, ainda que por breves linhas, nome ao indizível. Há uma coreografia clandestina que pulsa nas artérias de Luanda antes mesmo de o dia nascer, é um movimento semi-coreografado, de silhuetas que se deslocam entre táxis e calçadas, comandando entradas, gritando destinos, recebendo moedas suadas com apenas um rosto em p...